Sábado passado, resolvi sair de casa, a fim de levar minha filha à chamada “Praça de Alimentação”, onde, nas proximidades, Dido de Escolha instalara seu pula-pula. Enquanto Ana Cecília gastava suas energias no brinquedo, fiquei assistindo, no barraco de Izael, à partida entre o Flamengo e o Atlético Mineiro. Como sempre acontece, o local estava lotado de torcedores do rubro-negro carioca, os quais, após o Atlético abrir o placar, no início do segundo tempo, perderam de vez a paciência com o time e com o principal jogador deste, Ronaldinho Gaúcho. Contratado a peso de ouro, ganhando cerca de um milhão de reais por mês, ele ainda não havia apresentado, neste ano, 10% da habilidade que o levara a ser eleito o melhor jogador de futebol do mundo.
Até aqui você, caro leitor, deve estar se perguntando o que esses fatos têm de relevantes, para merecer uma postagem neste modesto blog. Concordo com você. O jogo estava igual a inúmeras “peladas” a que eu já assistira desde janeiro. Porém, aos 21 minutos da etapa final, revi uma cena que, de uns tempos para cá, tem me revoltado: Ronaldinho recebe uma bola dentro da grande área adversária e, com um chute certeiro, marca um belo gol; porém, ao comemorar o “grande feito”, coloca o dedo indicador nos lábios, exigindo silêncio da torcida, que o vinha vaiando há alguns jogos.
Costumo dizer que se contam nos dedos da mão direita os jogadores de futebol brasileiros merecedores da fama e do dinheiro que ganham. Ronaldinho Gaúcho não faz parte dessa lista. Para quem é tão bem remunerado, já ocupou o posto de melhor do mundo, considero uma obrigação jogar bem e ajudar o clube que lhe paga a conquistar bons resultados. Seu gesto à torcida flamenguista foi de um desrespeito sem tamanho. A maior torcida do Brasil, formada, em sua maioria, por habitantes das regiões menos desenvolvidas do país, não merece o escárnio de quem deve se achar acima do bem e do mal.
A grande maioria dos atletas que conquistaram fama e riqueza jogando futebol comporta-se ora como verdadeiros deuses, ora como crianças mimadas. Embora chamados de “profissionais”, agem, dentro e fora de campo, como se amadores fossem. Vivem em boates, bebem e fumam, brigam com colegas de profissão, simulam faltas e contusões, dão declarações estapafúrdias ou infantis e esnobam jornalistas esportivos. Um deles, recentemente, vangloriou-se de gastar com o cachorro de estimação mais do que um torcedor recebia de salário. Esse idiota, certamente, acredita que o fato de haver nascido com o dom de jogar futebol o faz um ser especial. Oportunos, nesse sentido, os versos de Gabriel, o Pensador na música “Brazuca”: Futebol não se aprende na escola, é por isso que Brazuca é bom de bola”.
Voltando ao insulto dirigido por Ronaldinho à torcida do Flamengo, solidarizo-me com os torcedores menos cegos pela paixão. Principalmente com os que viram aquela camisa 10 vestida por Zico. Os muito apaixonados, estes logo esquecerão o tapa sofrido, inebriados com as vitórias futuras e as grandes exibições do “genial” gaúcho. Embora não torça pelo rubro-negro carioca, reconheço o quanto é importante, para a grande massa de brasileiros, ver o seu time de coração sair de campo vitorioso. Moraes Moreira, na música “Saudades do Galinho”, resumiu, com brilhantismo, o sentimento que perpassa a alma do flamenguista: E agora como é que eu fico, nas tardes de domingo, sem Zico no Maracanã? Agora como é que eu me vingo de toda derrota da vida, se a cada gol do Flamengo eu me sentia um vencedor.
Sábado passado, vi esses versos de Moraes Moreira transformarem-se em cenas reais. Aqueles rostos tristes, cabisbaixos, alguns até marcados pela revolta, deram lugar, a cada gol marcado pelo Flamengo, a expressões de enorme contentamento. Terminada a partida, a felicidade ali reinante contagiava até quem odiava futebol. Pelo menos naquela noite, todos dormiriam satisfeitos com a vida. Afinal, o Mengão jogara bem, goleara e, por um breve instante, faziam sentido os versos de Milton Nascimento e Fernando Brant, presentes na música “Aqui É o País do Futebol”:
No fundo desse país
ao longo das avenidas
nos campos de terra e grama
Brasil só é futebol
nesses noventa minutos
de emoção e alegria
esqueço a casa e o trabalho
a vida fica lá fora
dinheiro fica lá fora
a cama fica lá fora
família fica lá fora
a vida fica lá fora
e tudo fica lá fora
5 comentários:
Meu amigo, vc escreveu tudo aquilo que estava sentindo no dia daquele jogo.
Sou flamenguista desde garotinho, mas quem tem num time, um técnico boca suja e um jogador preguiçoso, que jogar só com a fama, não deve se orgulhar desse time.
Um abraço.
Peço desculpas a um anônimo que, há pouco, enviou-me um comentário acerca desta postagem. Sem querer, acabei excluindo-o. Fique à vontade para reenviá-lo, caso deseje.
Kkkkkkkkkkkkkkkk.. foi de propósito
Caro Alcimar, a que pé anda a novela, ou melhor, o concurso de Jardim? A última que eu soube foi que o MP recomendou novamente ao prefeito que o mesmo anulasse o certame, dando prazo para isso de 5 dias úteis. Só que nunca mais vi nenhum pronunciamento de ambas as partes em nenhum dos blogs.
O que houve, Alcimar?
Mantenha-nos informados.
Estou na mesma situação que você, caro anônimo. Como estou de férias, não tenho visto Dr. Alysson. Assim que retornar ao trabalho, próxima segunda, procurarei saber como se encontra a questão e repassarei a informação por meio deste espaço. Em relação ao comentário anterior, eu realmente agi sem querer. Ainda não me acostumei a usar o notebook sem a ajuda de um mouse tradicional. Deve ser culpa da idade...
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