RIR POR ÚLTIMO
DATA: 14 de junho de 1987
CENÁRIO: Estádio Benedito Bezerra Lins, em Jardim de Piranhas/RN
PROTAGONISTAS: CAP e Real Sociedade Independente
O ano de 1985 foi, sem dúvida, o que mais mexeu com os nervos dos torcedores jardinenses. E não era para menos. Afinal, naquele ano, houve quatro confrontos de arrepiar entre CAP e Independente, acirrando a já enorme rivalidade entre as torcidas e adiando o tira-teima para o futuro, uma vez que nenhuma das duas equipes pôde demonstrar claramente, dentro das quatro linhas, qual era a melhor.
Esperava-se, pois, que, em 1986, os dois voltassem a se enfrentar na disputa do Matutão. O CAP, porém, frustrou a todos quando decidiu não disputar a competição, alegando dificuldades financeiras. O Independente, que não enfrentava tal problema, pois tinha total apoio da Prefeitura local, montou um time de respeito e conseguiu ir à final em Natal, onde perdeu para o Grêmio, de Areia Branca, ficando com o amargo título de vice-campeão. Enquanto isso, o CAP participava do Campeonato do Seridó enfrentando equipes do porte de Caicó e Coríntians, dois grandes clubes caicoenses que havia algum tempo estavam com seus departamentos de futebol desativados. A exemplo do Independente, o CAP também chegou à final, mas foi derrotado pelo Caicó, que ficou com o título.
Melhor estruturado financeiramente, o CAP decidiu participar novamente do Matutão em 1987. O Real, que manteve a base da equipe vice-campeã, também confirmou presença. Haveria, portanto, dois novos clássicos para mostrar, definitivamente, quem mandava no futebol jardinense.
A estréia do CAP não podia ter sido melhor. Vencer o Caicó por 4 a 0, jogando um futebol de primeira, animou a torcida tricolor para o próximo jogo, justamente contra o Independente, que, uma semana antes, vencera o mesmo Caicó com dificuldade. Em seu próprio campo, porém, o CAP perdeu por 2 a 0, com dois belíssimos gols de Galeguinho, centroavante do Real.
A partir desse jogo, o Independente disparou na tábua de classificação, enquanto o CAP perdia pontos preciosos para o Atlético, de Jucuturu, e para o Coríntians, de Caicó. A torcida tricolor viveu semanas terríveis, tendo de engolir as provocações e os gracejos da torcida rival, que aguardava o próximo jogo contra o CAP para ver seu time ratificar, com uma massacrante vitória, a condição de melhor equipe de Jardim de Piranhas.
Na manhã de domingo, horas antes do jogo, circulou pelas ruas da cidade um caminhão – guiado por Galeguinho e repleto de outros jogadores e torcedores do Independente – devidamente “ornamentado” com malas e piranhas presas a redes de pesca. Gozações à parte, a situação do time tricolor não inspirava confiança. Em conseqüência da má campanha, parte da torcida tricolor deixou de colaborar financeiramente, o que se refletiu na falta de material esportivo. Alguns jogadores do CAP tiveram de enfrentar o Independente calçando chuteiras emprestadas, mas não decepcionaram.
CAP e Independente entraram em campo em situações bastante distintas. Enquanto este já estava classificado, aquele precisava vencer e ainda lutar pela outra vaga com o Coríntians, dentro de Caicó. A classificação, entretanto, era o que menos importava no momento. Tudo o que a torcida e os jogadores tricolores desejavam era devolver a derrota sofrida no clássico anterior.
Jogando com Grego (depois Dorian), Casinho, Alberi, Nildo e Galeguinho; Bené, Concone e Albino; Alcione, Jailson e Cicinho, o CAP jogou com garra e determinação. No primeiro tempo, Concone abriu o placar numa magistral cobrança de falta e Cicinho ampliou no final, para o desespero de Nego Gato, goleiro do Independente, que, aos prantos, buscou a bola no fundo das redes.
No segundo tempo, ainda atônito, o Real tentou pressionar em busca do empate. O CAP, desse modo, teve o espaço de que precisava para jogar no contra-ataque, mas desperdiçou seguidas chances de gol. Só não aconteceu uma goleada histórica porque o goleiro tricolor, que falhara no jogo anterior, enervou-se e simulou uma contusão, tendo de ser substituído por Dorian. O Independente animou-se e aumentou a pressão, haja vista o CAP ter recuado todos os jogadores a fim de dar maior proteção a seu jovem e inexperiente goleiro. A partir daí, a partida limitou-se ao Real lançar bolas na área do CAP, cujos zagueiros tiravam-nas de qualquer jeito. A defesa tricolor só não pôde evitar o gol do Independente, fruto de uma jogada irregular em que um jogador tocou a bola com o braço, ela bateu no travessão e, na volta, um outro jogador do Real cabeceou para dentro do gol. Os torcedores do Independente mal puderam comemorar porque, minutos depois, o árbitro encerrou a partida. Os que foram ao estádio assistir à consagração do Independente tiveram de aplaudir a incontestável vitória de um CAP aguerrido e valente.
Em tempo: o CAP não se classificou. Coríntians e Independente passaram à segunda fase, mas ambos foram desclassificados pelo Ronamite, de Carnaúba dos Dantas.
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