QUANDO SE CANTA O SERTÃO...!
JAIR ELOI DE SOUZA*
Quando é chegada a hora,
Repique sinistro é de sino,
Criança sem batizar-chora,
Morrendo não tem destino.
No Sertão em noite escura,
Vivendo a quadra chuvosa,
Tem choro da mãe-da-lua,
Surra cachorro a caipora.
Fogão de trempe cozinha,
Telhado tem pucumã,
Bueiro espanta a vizinha,
Na serra há aba e chã.
Toda canga tem canzil,
Carga de besta caçuá,
Burra maninha tem cio,
Embora sem procriar.
A xerófila tem espinho,
Casa velha mangangá,
Juriti fazendo ninho,
Esconde-o do carcará.
Peleja é pra cantador,
No cinzento do Nordeste,
Rede de Santo é andor,
Égua poltrã desembesta.
Prisão de pássaro é gaiola,
Peixe se pesca em puçá,
Tapera não tem bitola,
Vereda, fojo é pra preá.
Aba de serra é encosta,
Se faz curva é quebrada,
Lama em açude atola,
Se não chove é rachada.
Assum preto quando chora,
Tem canto em melancolia,
Se canta a sururina perora,
Quão curta é a travessia.
O Sertão de nunca mais,
Já penou com aguaceiro,
Nunca faltou estiagem,
Gado urra é desespero.
Canto de cambonje é seco,
Escuta-se na madrugada,
Rasante de tetéo dá medo,
Carão canta compassado.
Botija é mal-assombrada,
Mulinga tem penitência,
Caipora é endiabrada,
Briga em feira desavença.
Mulata jovem é cabrocha,
Cavalo peco é pangaré,
Cabana de palha é choça,
Faca pequena é quicé.
(*) PROFESSOR DO CURSO DE DIREITO DA UFRN.
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