O canal Viva, da Sky, reprisou neste mês a minissérie “Anos Rebeldes”, que narra a conturbada história de amor vivida por João Alfredo (Cássio Gabus Mendes) e Maria Lúcia (Malu Mader), tendo como pano de fundo os anos de chumbo da Ditadura Militar.
Levada ao ar pela primeira vez entre os meses de julho e agosto de 1992, a minissérie, na época, contagiou os estudantes de todo o país, estimulando-os a saírem às ruas, de caras pintadas, em enormes passeatas, pedindo o impeachment de Fernando Collor. Foi um momento mágico da História recente do Brasil, em que, por um breve momento, os jovens demonstraram interesse pela Política e, de Norte a Sul do país, deixaram o comodismo de lado e foram às ruas entoarem palavras de ordem, exigindo ética e probidade de nossos governantes e parlamentares.
Este modesto escriba, na época, estava prestes a concluir o curso de Letras. Em meu discurso de formatura, escrito quando Collor já fora substituído por Itamar Franco, registrei minha desconfiança quanto aos verdadeiros ideais dos caras-pintadas. Leia o trecho:
“Os nossos governantes não são os únicos culpados. Todos nós, aqui presentes, somos um pouco responsáveis. Principalmente a juventude, pois se supõe que ela ainda acalente o sonho de mudar a realidade. Eu, particularmente, não creio em tal hipótese. Na verdade, a minha geração é desprovida de ideais nobres. O idealismo de outrora cedeu lugar ao individualismo de hoje. Ídolos do quilate de Ernesto "Che" Guevara e Martin Luther King foram substituídos por Xuxa e Ayrton Senna. Até mesmo quando a mídia tentou ressuscitar em nós o antigo gosto pelas passeatas, mostramos, em cadeia nacional, o quanto somos superficiais. Na coreografia do impeachment, os "caras-pintadas" não conseguiram disfarçar a alienação evidente. Seus rostos mostraram que, sob a tinta, escondiam-se muita diversão e pouca conscientização”.
“Está na hora de deixarmos a covardia de lado. A geração dos anos 90 precisa reviver os ideais revolucionários do passado, caso queira viver num país decente. A geração de 68 nos dá o exemplo: nunca o Brasil e o mundo sofreram tantas transformações como naqueles anos. Graças a um estado de espírito, uma rebeldia contagiante, que, infelizmente, não teve um final feliz. A brutalidade verde-oliva ceifou o farto plantio de idéias que vicejavam na cabeça dos jovens. Ainda assim, eles ousaram acreditar, no dizer da época, que "a morte de duas ou três rosas não conseguiria deter a primavera". Sangrento engano, pois, em vez da primavera, veio o outono da repressão, da tortura, do exílio. O grito pela liberdade, pela democracia, foi sufocado; ficou entalado na garganta, esperando o momento ideal para novamente ecoar pelas ruas e avenidas do país”.
Pois bem. Os anos se passaram. Deixei de admirar “Che” Guevara e me desencantei com o Partido dos Trabalhadores. Os jovens brasileiros, conforme previra, continuaram, em sua maioria, preocupados apenas com os próprios problemas.
Atualmente, vejo, com preocupação, alguns movimentos pedindo a saída de este ou aquela governante. Virou moda, hoje em dia, pedir FORA! Aqui mesmo, em Jardim, isso já ocorreu duas vezes, por meio de pichações em prédios públicos. Entretanto, encaro esses movimentos apenas como uma forma de fazer barulho, sem muito resultado prático.
Acredito que deva ser respeitada a vontade do eleitor. Um governante só deve ser expulso do cargo para o qual fora democraticamente eleito somente quando se comprovar haver ele sido ímpobro, desonesto, corrupto.
Os jovens, e somente eles, ainda podem mudar o mundo. Porém, devem fazê-lo respeitando as instituições e o estado democrático de direito. Os sindicatos, as associações, os partidos políticos, as ONGs, os grêmios estudantis e os diretórios acadêmicos estão aí, abertos a todos que desejem lutar por uma sociedade igualitária. E não é preciso assistir a nenhuma peça de ficção para finalmente se convencerem de que, sem a participação deles, nada será mudado – para melhor!
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