CARTA AO AMIGO E CONTERRÂNEO ALCIMAR

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A GREVE EM JARDIM DE PIRANHAS

“Os Estudos são Amaros, mas, seus frutos são saborosos”
Pérola de um velho alfaiate chamado Luiz Eloi de Souza, meu ancestral imediato.

                                JAIR ELOI DE SOUZA*

Um velho bardo cego, que vivia nas cercanias da polis grega, deixara dois poemas: a “Ilíada”, que trata da guerra dos deuses loucos, Tróia.  A “Odisséia”, que dissertava as peripécias de um de seus heróis, Ulisses, que não encontrava tempo para retornar ao encontro do seu lar, expondo sua esposa a pretendentes desavisados quanto a fidelidade que aquela reservava ao seu marido. Tempos mais recentes, a exemplo do legado deixado por Homero, os cegos dos Bálcãs também contavam em versos as façanhas dos seus povos. Esses dois registros da história não teriam a mínima possibilidade de chegar aos nossos dias não fossem as luzes do saber, da escola, dos nossos mais humildes professores.

Ditada essa vertente, que é um marco na história da humanidade, como construir a dignidade da pessoa humana, principalmente dentre aqueles desaquinhoados, sem ofertar-lhe a estação do saber, do conhecimento, da cultura e da conscientização. A classe dirigente ilegitimada, pois, se escolhera num processo espúrio, eivado do escambo, da opção pela pecúnia. Daí, fazer uma leitura de que o ser letrado, desasnado não é bom parceiro, portanto tratá-lo com dignidade constitui-se numa ameaça, uma aposta de risco. É o caso do professor, do docente, do fazedor de opinião, no contexto de seu ofício na sala de aula. No âmbito da dicotomia: luz e treva, o alcaide prefere a penumbra, o vidro embaçado, é o coito de sua insensibilidade, que o ajuda a dissipar o tempo e permanecer no poder, não em si no momento  então, mas no passo seguinte, para garantir o status quo, a mesmice da ignorância das gentes comuns.

Portanto, o adversário sobre o qual jogou tanto petardo pode, a qualquer momento, ser convocado para um armistício, que o dito popular nomina de “lavagem de roupa suja”, que nada mais é do que a tenda da indecência, o fluido do desprezo pela coletividade. Falo como docente, ofício que me garante estar nas mesmas lamúrias, no mesmo patamar de vindicância por remuneração cidadã, tentando varrer o lixo que os desavisados do tempo albergam embaixo dos seus birôs, em seus gabinetes.

A greve aprioristicamente, além de sua razão de ser de natureza reivindicatória por melhores salários, condições de trabalho e por dinamismo na progressão funcional, não pode abdicar talvez do mais magnânimo e sublime objetivo, que é o de defender a última cidadela da dignidade humana, qual seja, a existência da Escola Pública, democrática e, se possível, de qualidade renovadora para milhares de excluídos. Para tanto é que, no permeio de sua existência, necessário se faz ter sempre uma pauta alternativa, além da específica, qual seja conquistar a cumplicidade de outros seguimentos, dentre os quais, o próprio legislativo.

É a nossa pequena contribuição em comento, aos colegas de Jardim. Ainda bem que existe uma expectativa de melhoria nas condições de trabalho.

(*) PROFESSOR DO CURSO DE DIREITO DA UFRN.

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