A crase não foi feita pra humilhar ninguém
Vou a piscina? Vou à piscina? Ele se dirigiu a Maria? Ele se dirigiu à Maria? Fui a Brasília? Fui à Brasília? Parece pegadinha. Mas não é. Trata-se da crase. Ferreira Gullar disse que o acentinho não foi feito pra humilhar ninguém. Pode ser. Mas que dá nó nos miolos, isso dá. Você sabe desatá-lo? Antes de responder, faça o teste. Assinale com V, de verdadeiro, as frases nota mil. E com F, de falso, as notas zero. Depois, escolha a sequência pra lá de certa:
( ) Vou à piscina da Água Mineral.
( ) João Marcelo é fiel à namorada.
( ) Relativamente à questão proposta, nada posso informar. ( ) Paulo se dirigiu a diretora da escola em que estuda.
( ) João Marcelo é fiel à namorada.
( ) Relativamente à questão proposta, nada posso informar. ( ) Paulo se dirigiu a diretora da escola em que estuda.
a. V, V, V, F
b. F, F, F, V
c. F, F, V, V
d. F, F, V, F
E daí?
Marcou a letra a? Pra lá de certo. O acentinho grave não lhe vai roubar nenhum pontinho no vestibular, no trabalho, no concurso ou na vida. Preferiu outra letra? Bobeira total. Deixe a preguiça pra lá e parta pra luta. Você não merece ser maltratado por um grampinho à toa. Vá em frente.
Sem humilhação
O acentinho grave só tem uma função na língua portuguesa. É indicar a crase. Mas, apesar da exclusividade, muitos tropeçam nele. A razão é simples. Poucos lhe conhecem a manha. Mas não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe. No instante em que dominam os três passos do sinalzinho, acertam todas. Quer ver?
Primeiro passo: desvendar o segredo do grampinho
Crase é como aliança no dedo esquerdo. Avisa que estamos diante de ilustre senhora casada. A preposição a se encontra com o artigo a. Os dois se olham. Sorriem um para o outro. O coração estremece. Aí, não dá outra. Juntam os trapinhos e viram um único ser.
Crase é como aliança no dedo esquerdo. Avisa que estamos diante de ilustre senhora casada. A preposição a se encontra com o artigo a. Os dois se olham. Sorriem um para o outro. O coração estremece. Aí, não dá outra. Juntam os trapinhos e viram um único ser.
Segundo passo: descobrir se existem dois aa
Para que a duplinha tenha vez, impõem-se duas condições. Uma: estar diante de uma palavra feminina. A outra: estar diante de um verbo, adjetivo ou advérbio que peçam apreposição a:
Vou à piscina da Água Mineral.
O verbo ir pede a preposição a (quem vai vai a algum lugar).
O substantivo piscina adora o artigo (a piscina da Água Mineral fica na Asa Norte).
Resultado: a + a = à
João Marcelo é fiel à namorada.
O adjetivo fiel reclama a preposição a (quem é fiel é fiel a alguém).
Namorada se usa com artigo (a namorada de Marcelo se chama Carla).
Resultado: a + a = à
Relativamente à questão proposta, nada posso informar.
O advérbio relativamente exige a preposição a (relativamente a alguém ou a alguma coisa).
Questão pede o artigo a (a questão ainda não tem resposta)
Resultado: a + a = à
Para que a duplinha tenha vez, impõem-se duas condições. Uma: estar diante de uma palavra feminina. A outra: estar diante de um verbo, adjetivo ou advérbio que peçam apreposição a:
Vou à piscina da Água Mineral.
O verbo ir pede a preposição a (quem vai vai a algum lugar).
O substantivo piscina adora o artigo (a piscina da Água Mineral fica na Asa Norte).
Resultado: a + a = à
João Marcelo é fiel à namorada.
O adjetivo fiel reclama a preposição a (quem é fiel é fiel a alguém).
Namorada se usa com artigo (a namorada de Marcelo se chama Carla).
Resultado: a + a = à
Relativamente à questão proposta, nada posso informar.
O advérbio relativamente exige a preposição a (relativamente a alguém ou a alguma coisa).
Questão pede o artigo a (a questão ainda não tem resposta)
Resultado: a + a = à
Terceiro passo: recorrer ao macete
Não quebre a cabeça. Na dúvida, recorra ao tira-teima. Substitua a palavra feminina por uma masculina. (Não precisa ser sinônima.) Se no troca-troca der ao, não duvide. É crase na certa:
Vou à piscina. Vou ao clube.
Rafael é fiel à namorada. Carla é fiel ao namorado.
Relativamente à questão, nada posso fazer. Relativamente ao problema, nada posso fazer.
Vou à piscina. Vou ao clube.
Rafael é fiel à namorada. Carla é fiel ao namorado.
Relativamente à questão, nada posso fazer. Relativamente ao problema, nada posso fazer.
Moral da história: Ferreira Gullar tem razão. A crase não foi feita pra humilhar ninguém. Mas para indicar o encontro de dois aa. Só.
Teste
Está pra lá de certa a frase:
a. Quanto à carta citada no artigo de hoje, espera-se que tenha muita repercussão.
b. Quanto a carta escrita pela presidente, espera-se que tenha muita repercussão.
Acertou?
Escolheu a letra a? Acertou. Na dúvida, vamos ao troca-troca: Quanto ao poema citado no artigo de hoje. Espera-se que tenha muita repercussão.
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