Meus ex-alunos, pelo menos os de boa memória, devem-se lembrar de que sempre iniciava meu primeiro contato com eles perguntando: “Quem, nesta sala, sabe português?”. Como ninguém respondia, indagava novamente: “Se nenhum de vocês sabe português, qual é a língua que dominam? Inglês? Alemão? Espanhol?”.
Minha intenção, com esses questionamentos, era conscientizá-los de que todos nós, do analfabeto ao escritor famoso, sabemos Português. Afinal, é, para muitos, o único idioma utilizado para se comunicar. O fato de, vez por outra, falarmos ou escrevermos de forma diferente do que determinam as normas gramaticais não nos torna completos ignorantes. Fazendo uma comparação grosseira: como aprendemos a falar e a andar quase que simultaneamente, se as quedas que ocasionalmente sofremos não demonstram nossa falta de habilidade para caminhar, porque falar ou escrever “nós vai” revelaria nossa total ignorância em relação ao domínio da Língua Portuguesa?
Não estou aqui defendendo que devamos falar ou escrever como acharmos melhor. Não me entendam mal. O ideal seria que todos os brasileiros tivessem a capacidade de se expressar adequadamente, conforme a situação em que se encontrassem. É a velha história de se comparar a língua com a vestimenta. Como não se vai à praia de vestido longo nem se comparece a uma formatura de biquíni, também não se mostra adequado usar palavras chulas num evento formal ou “falar difícil” numa mesa de bar.
Outra coisa a ser evitada é usar a capacidade de expressão de alguém para constrangê-lo ou criticá-lo, como se um equívoco gramatical fosse capaz de diminuir a capacidade profissional ou intelectual de quem o comete. Digo isso porque, numa matéria postada neste blog no último dia 16 de agosto, intitulada “Para que lado a cidade deve se expandir?”, publiquei um comentário de meu ex-aluno e grande amigo Chico Engenheiro, que motivou a um leitor anônimo, a quem agradeço pelo acesso ao blog, a “corrigi-lo” da seguinte forma: “Engenheiro Chico, a palavra "Infelizmente" é com "z" e não com "s".
Peço desculpas ao autor desse comentário, que considero, no mínimo, infeliz (refiro-me ao comentário, não a quem o escreveu). Criticar a forma como alguém se expressa, censurando-o, visando a expô-lo ao ridículo, equipara-se a rir da forma como um mendigo se veste, das formas físicas de uma pessoa obesa ou das limitações físicas de um paraplégico. Saibam, esse anônimo e todos os leitores deste modesto blog, que escrever ou falar com perfeição é IMPOSSÍVEL. Todos cometem equívocos. Uns mais, outros menos, dependendo do nível de escolaridade e da área em que atua. Um professor de Língua Portuguesa, por exemplo, equivoca-se com menos frequência que um de Matemática.
Este blogueiro, por inúmeras vezes, já cometeu seus deslizes. Afinal, não me constituo em nenhum sumidade na área da Língua Portuguesa. Não é desonra para ninguém cometê-los. Isso se aplica a todos os falantes da "Última flor do Lácio", como assim a denominou o poeta Olavo Bilac.
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