Em 2000, meu amigo Marcos Antônio Medeiros de Oliveira, na época aluno do curso de História da UFRN/Campus de Caicó, fez um estudo sobre a ponte Amaro Cavalcanti. Peço permissão a ele para reproduzir um trecho desse trabalho, que segue abaixo:
As Balsas
(uma alternativa)
Antes de 1954, data do término de construção da Ponte Amaro Cavalcante, a ligação com o vizinho Estado da Paraíba era feito a “pé molhado”, ou seja, passava-se por dentro do Rio Piranhas quando este estava baixo. Na época das chuvas, o nível do rio aumentava bastante e só se podia atravessá-lo nas balsas de madeira, enfrentando a forte correnteza do rio. As pessoas atravessavam em canoas, geralmente sem segurança alguma, o que às vezes os expunha ao perigo, devido à força das águas e ao fato de as canoas serem movidas a remos.
Pelo menos um acidente com vítimas fatais foi registrado na história no período anterior à construção da ponte. A tragédia aconteceu no dia 30 de março de 1947, quando uma canoa repleta de pessoas afundou logo após bater em uma árvore, submersa nas águas impetuosas do rio Piranhas. Uma pessoa morreu nesse acidente. A senhora Tereza Calixto Freire, que na época tinha em torno de oito anos, é uma das sobreviventes desse acidente. Sua mãe, porém, não teve a mesma sorte e morreu afogada tentando salvá-la. Tereza, mais conhecida por “Terezinha”, hoje com 62 anos, assim narra o fato:
“A gente se criou no sítio. Eu tinha mais de oito anos. Então minha mãe veio assistir à missa do Domingo de Ramos. Como eu era a menor, ela me trouxe. A enchente era muito grande! Então, quando a gente vinha pelo meio do rio, havia um pé de ‘angelim’, que é uma planta muito alta. A canoa bateu nela e daí minha mãe se afogou. O povo fala que eu não molhei nem os cabelos. Nessa canoa ia muita gente. Quando bateu no ‘angelim’, a canoa afundou e desceu todo mundo no remanso. Quando me tiraram, eu já vinha para cá do matadouro. Só minha mãe morreu. A gente morre quando tem de morrer. Naquele tempo, era muito perigoso atravessar o rio, pois ainda não existia a ponte e o povo passava nas canoas. Eu acho que aquela foi a maior cheia do Piranhas. Isso foi em 1947, no dia 30 de março. Minha mãe se chamava Francisca Augusta Freire, mas eu não me lembro dela nem de nada. O que eu sei é o que o povo me conta. Fui criada por um tio que possuía um hotel e as pessoas que lá se hospedavam me contavam toda a história”.
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