A revista Veja da semana passada, edição nº 2.217, publicou uma entrevista com o matemático Jacob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências. Veja, abaixo, os trechos que considerei mais importantes:
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Europeus e americanos descobriram séculos atrás o valor da ciência, algo que os brasileiros só recentemente começaram a perceber. Pode-se dizer que os países mais desenvolvidos foram moldados por esse DNA. Neles, a elite sempre reconheceu a importância da escola e da propagação do conhecimento, o que a motivou, no decorrer do tempo, a doar grandes somas de dinheiro a instituições de ensino (...).
Há muito o que aprender com os chineses, que levam hoje o conceito do mérito às últimas consequências. Para atrair de volta ao país os milhares de cérebros que seguiam carreira em universidades americanas e europeias, o governo passou a lhes fazer propostas agressivas. Eles chegam a ganhar o dobro ou até o triplo que a média do restante dos cientistas e trabalham em laboratórios de altíssimo nível. São valorizados de tal forma que foram alçados à condição de celebridades. Quando saem às ruas de Xangai ou Pequim, dão até autógrafo. Curiosamente, lá, ao contrário daqui, não existe nenhum problema com a ideia de que vizinhos de mesa recebam salários diferentes.
(...) é premente que se rompa de vez na academia brasileira com o velho espírito napoleônico, segundo o qual a igualdade deve prevalecer sobre a meritocracia. É preciso também tornar a estrutura das universidades menos rígida – outro de nossos obstáculos históricos.
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O grande mérito da Coreia foi traçar um plano bastante objetivo para a educação, enxergando décadas à frente, sem jamais abandonar suas metas. Planejamento de longo prazo é algo que o Brasil não está habituado a fazer (...).
A experiência das melhores escolas, no Brasil e no exterior, mostra que uma boa aula pressupõe desafiar os estudantes o tempo todo, de modo que eles sejam expostos a problemas cada vez mais complexos e estimulantes intelectualmente – o avesso da decoreba. Apenas num ambiente assim se abre o espaço necessário para a inventividade. O problema é que muita gente no Brasil ainda resiste a essas idéias. Dizem que os grandes desafios causam pressão sobre estudantes tão jovens e aguçam a competitividade. Mas por que se opor à competição no ambiente escolar? Não faz sentido (...).
Para chegar lá [um brasileiro ganhar um Prêmio Nobel], não basta ser brilhante nem apresentar um trabalho revolucionário. É também necessário pertencer a um ambiente intelectualmente virtuoso e inserido na pesquisa global. O Brasil está no caminho certo – mas é preciso acelerar o passo.
Pena que muitos administradores e profissionais da educação não compartilhem das ideias acima destacadas.
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