FATOS DE NOSSA HISTÓRIA: ANTECEDENTES

domingo, 29 de maio de 2011

NOSSA SENHORA DOS AFLITOS
           

          Não se conhece a existência de vestígios pré-históricos dentro do território de Jardim de Piranhas, apesar de a cidade distar apenas 115 quilômetros de Sousa, uma das trinta localidades que formam o Vale dos Dinossauros, região do alto sertão paraibano, considerada um dos mais importantes sítios paleontológicos do mundo.
         Pela proximidade, pode-se supor que os fósseis, as marcas de vegetais petrificados e as pinturas rupestres, encontrados em Sousa e em municípios vizinhos, sejam comuns às espécies animais e vegetais da fauna e da flora do Seridó potiguar, bem como à presença do homem pré-histórico nesta região.
         Os vestígios mais antigos da presença humana em Jardim foram registrados por MEDEIROS FILHO[1]:

       Aos 8 de março de 1688, Matias da Cunha, Governador-Geral do Brasil, dirigiu-se ao capitão-mor Domingos Jorge Velho, determinando-lhe partir com a sua gente para combater os bárbaros do Rio Grande. Na mesma correspondência, refere-se ao “mau sucesso que teve o Coronel Antônio de Albuquerque da Câmara na entrada que fez aos bárbaros”. Domingos Jorge Velho chegou ao teatro das operações, no Rio Grande, anteriormente a 5 de junho de 1688.
         (...)
         O Dr. Manoel Dantas dá notícia de uma casa-forte, construída em Jardim de Piranhas. Cremos tenha sido nela, que ficou alojado o mestre-de-campo Domingos Jorge Velho. Pela correspondência oficial, tem-se certeza de que o acampamento do paulista ficava na ribeira das Piranhas, em território rio-grandense, fronteiras com a Paraíba.

         A vinda de Domingos Jorge Velho ao Seridó visou, unicamente, a dizimar os indígenas que habitavam a região, confronto que ficou conhecido como a “Guerra dos Bárbaros”. O bandeirante paulista cumpriu à risca sua missão, exterminando todas as tribos seridoenses, incluindo-se a dos Caiacós, a dos Curemas, a dos Pebas e a dos Icós[2], que viviam na área hoje correspondente aos municípios de Jardim de Piranhas, Timbaúba dos Batistas, São Fernando e Jucurutu.
         Sem a feroz presença indígena, ficara a região livre para ser ocupada, o que não demorou a ocorrer. CASCUDO[3] assim registrou o início do povoamento do Seridó:

       O século XVIII é a conquista do Seridó. Começa uma história sem possibilidades documentais. Mais story que history. É a odisséia dos posseiros, homens sem títulos legitimadores da estabilidade. Vinham do Ceará, da Paraíba, acompanhando os rios orientadores, Piancó, Rio do Peixe, Pinharas, fundidos no Piranhas, tornado Rio do Açu, caindo no Atlântico em Macau.
         Os posseiros bateram primeiro nas várzeas e planalto do Apodi, tabuleiros e capoeirões do Seridó, batizando a terra nullius domini sem que deixassem pegada em livro da Real Fazenda e sim nos acidentes da serra, carrasco e caatinga, padrinhos dos riachos, serrotas e logradouros.
         O século XVIII fora a centúria do povoamento efetivo dos sertões e agreste, em ambas as dimensões territoriais: do Norte para o Ceará; do Sul para a Paraíba, avivado pela osmose do Jaguaribe e do Piranhas.
         O impulso era a pastorícia, profetizada por Diogo de Campos em 1614: “A terra lhe era franca mais para o gado e creações do que para canaviaes e roças”. As roças vieram, suficientes e fartas, mas apoiando a família dos vaqueiros na labuta do campo.

         DANTAS[4], por seu turno, deixou registrado que

No Seridó, sob as bênçãos de ricas tradições patriarcalistas, surgiu e firmou-se, de há muito, como o grupamento humano o mais homogêneo e o mais rico de beleza étnica, gerando, através dos tempos, essa admirável unidade familiar, social e espiritual, rara, às vezes, noutras regiões.


[1] MEDEIROS FILHO, Olavo de. Índios do Açu e Seridó. Gráfica do Senado Federal: Brasília, 1984, p. 120-121.
[2] MEDEIROS, Tarcísio. Aspectos Geopolíticos e Antropológicos da História do RN. Imprensa Universitária: Natal, 1973.
[3] CASCUDO, Luís da Câmara. Nomes da Terra. Fundação José Augusto: Natal, 1968.
[4] DANTAS, D. Adelino. Homens e Fatos do Seridó Antigo. Garanhuns: O Monitor, 1962.

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