QUE NOVIDADE FOI REVELADA POR AMANDA GURGEL?

quinta-feira, 19 de maio de 2011


Assisti, como ocorreu a muitos, ao vídeo em que a professora natalense Amanda Gurgel enumera as dificuldades enfrentadas pela classe docente deste Estado. Parabenizo-a pela coragem, pela clareza do discurso, pelo poder de síntese. No entanto, não vi nada de novo em seu pronunciamento. Quem é professor no Brasil, salvo raríssimas exceções, conhece, na prática, tudo o que foi “denunciado” por ela.
Mas em mim, particularmente, dói constatar que nada mudou de 2005 para cá, ano em que deixei de lecionar. O quadro de abandono e de escárnio com a Educação é o mesmo, apesar de esta sempre constar dentre as prioridades dos governos, seja em qual nível for.
Fui professor durante doze anos. Tenho muito orgulho e saudade desse meu passado. Acredite quem quiser, mas jamais haveria deixado a sala de aula se ganhasse um salário justo, fossem-me disponibilizadas plenas condições de trabalho e recebesse um tratamento digno de meus patrões (Governo do Estado e Prefeitura Municipal).
Esperei doze anos para que as coisas mudassem. Nesse período, presenciei cenas explícitas de desrespeito e abandono. Tivemos de fazer cota a fim de comprar água mineral, tendo em vista que a Secretaria de Educação nos informara não haver verba para tanto. Diversas vezes encontrei o banheiro da escola sem papel higiênico. Até giz, ocasionalmente, faltava. O Estado ficou me devendo um quinquênio e duas letras, que representam dois níveis de progressão funcional. A Prefeitura, por sua vez, sem qualquer justificativa plausível, negou-me o direito de gozar uma licença-prêmio, por mim requerida a fim de estudar para um concurso do Tribunal Regional Eleitoral.
Perceba, caro leitor, que nada mudou em quase uma década. O que Amanda Gurgel ganha hoje num único emprego eu precisava ministrar cinquenta aulas por semana para superar. As aulas de sexta-feira à noite eram dadas com grande esforço e sacrifício, com a garganta em frangalhos e a voz quase falhando.
Torço para que a notoriedade de Amanda, finalmente, abra os olhos da sociedade para o abismo que a espera num futuro próximo. Torço, mas não creio nessa possibilidade. Logo o fato cairá no esquecimento, os professores sairão da greve como nela entraram, as escolas continuarão como sempre estiveram e teremos de suportar, nos próximos pleitos, muitos candidatos mentindo descaradamente, apresentando-se ao eleitorado como defensores da Educação.

9 comentários:

Anônimo disse...

Sabemos que com a implementação do piso salarial a situação do professor melhorou um pouco, contudo, o que o professor realmente deseja é valorização no sentido amplo da palavra. A profissão Professor talvez seja a mais digna de todas, formamos pessoas para serem agentes de transformação da sociedade, cidadãos conhecedores de seus direitos e deveres. O nosso principal instrumento de trabalho é a voz e através dela podemos propagar nossos ideais e concepções de uma sociedade mais justa e igualitária para todos. Embora tenhamos a consciência que o desafio da mudança é enorme ainda nos resta o discurso. Otimismo pedagógico é sempre bem-vindo.

Gedeane disse...

Alcimar tive o prazer de ser sua aluna e hoje me inspiro na sua dedicação a profissão de educador para exercer a minha luta na mesma,perdoe- me os erros no português, pois vivemos para aprender mas concordo com tudo que você e a cara colega Amanda relatam.
Se os professores e a educação fosse valorizada nosso país seria diferente, mas percebo o pouco valor que é dado a educação e aos educadores nesse país, na verdade só temos valor nos bonitos discursos que são recitados pelos políticos que nunca fazem nada por nós, o que nos deixa cada vez mais com a certeza que os poderosos não querem cidadãos cultos e críticos capazes de mudar essa triste realidade.

Anônimo disse...

Adriana, não: Amanda. Estou certo?

. disse...

Certíssimo, anônimo. Obrigado pela correção!

Anônimo disse...

É lamentável Alcimar, mas nossa escola continua a mesmo que você deixou, e pior, em alguns aspectos piorou. Só par citar alguns exemplos veja a estrutura de nossa escolas estão caindo os pedaços e os professores desestimulados, desrespeita e sem pespectivas vivem e transmitem negatividade, também prá uma cidade que tem um prefeito analfabeto esperar o que?

Anônimo disse...

Concordo em parte com o comentário acima. Realmente alguns professores do nosso município ainda não enxergam a educação e o conhecimento na perspectiva construção e transformação,assim, ministram aulas expositivas sem a participação do aluno, utilizando-se do que costumamos chamar de Pedagogia Tradicional. No entanto, também temos encontrado alunos desmotivados e pais despreocupados com a educação de seus filhos. Como bem falou Amanda, os professores não são os redentores da sociedade. Somos seres humanos, nos decepcionamos, temos necessidades, problemas... Penso que devemos deixar de criticar e apontar o dedo para o que de ruim existe em nossas escolas e desenvolver posturas, ações e atitudes que objetivem a mudança no cenário. Refletir sobre a escola que temos e, a escola que queremos é uma questão que deve ser objeto de discussão de toda sociedade jardinense. Os Professores não são os únicos culpados da situação e, nem sozinhos, mudarão a ESCOLA.

Anônimo disse...

Tudo o que se disse revela o mesmo que todos nós sabemos. Infelizmente as coisas nunca serão como deveriam ser, por motivos óbvios! O que se pode sempre tentar fazer é diminuir a distância entre a escola que temos e a educação necessário para que de fato as pessoas possam continuar sonhando com um Brasil diferente. Não acredito que verei uma escola pública e de qualidade no Brasil em pouco tempo! Mas, para continuar vivendo parece que é necessário manter a esperança.

DIASSIS SILVA disse...

Alcimar Araújo,primeiro de tudo venho aqui desejar votos de felicidades a sua esposa késia.
Olha Alcimar, falando sobre amanda gurgel,me despertou uma curiosidade.
Nós que fazemos a vale do piranhas, uma vez por outra usamos o microfone deste meio de comunicação, para relatar fatos desagradáveis,assim como a educadora amanda gurgel fez,só que em lugar diferente.
O que me revolta é que quando abrimos a boca para dizer a verdade,pois só falo quando tenho segurança, sempre aparece alguém querendo calar a nossa voz.
falei na época da greve dos professores, não dos professores mas sim que os alunos estavam no prejuízo.não gostaram.
falei dos chiqueiros de porcos,fui ignorado.alem de outros assuntos que é de interesse da população e que muitos viram o rosto para tais problemas.Parabéns pelo seu belo trabalho como professor, me orgulho de ter sido seu aluno.
ISSO ME DEIXA REVOLTADO

Anônimo disse...

Nada mudou, nem mesmo a quota para a compra da água mineral.

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