"CAUSOS" JARDINENSES

             Jeso Ferreira, hoje um senhor de idade já avançada, ex-vereador, pai de meus queridíssimos amigos Edílson e Carminha, é conhecido pelo temperamento um tanto quanto "difícil". Natural do Brás, uma pequena comunidade rural fincada a alguns quilômetros da cidade, por lá viveu durante um bom tempo. A luta no campo, como de costume, fazia o sertanejo possuir algumas crenças, passadas de pai para filho. Por aqui, ainda hoje se acredita piamente que tomar café com leite e em seguida molhar-se entorta a boca do infeliz, deformando-o para sempre.

                Uma tarde no Brás, após uma chuva passageira, formou-se uma lagoa defronte da casa onde estavam Jeso e dois trabalhadores seus. Após a merenda da tarde, justamente o tal café com leite, Jeso ordenou a eles que retornassem ao serviço.

                - Tá doido, Jeso? – replicou um deles. Eu lá vou sair nessa neblina depois de tomar café? Eu posso morrer!

                Jeso sequer pestanejou. Lançou-se de todo corpo dentro da lagoa como se disputasse uma final olímpica dos cem metros rasos.

                - Cadê que eu morro? Cadê que eu morro? – repetia ele, debatendo-se na água barrenta.