Gostaria de compartilhar com vocês, amigos leitores, um texto que considero o mais belo já lido sobre o rio Piranhas. Foi escrito por Manuel Rodrigues de Melo, em seu livro “Várzea do Açu”, publicado em 1979. Segue, abaixo, o trecho que considero mais poético e elogioso.
“(...) Os historiadores falam de ti, nas suas crônicas. Uns querem que tenhas sido o primeiro visitado entre nós pelos europeus. Outros defendem para ti a glória de ter dado nome à capitania. Os geólogos fazem menção à terra onde serpenteias, há milênios. Os engenheiros estudaram a tua bacia hidrográfica. Os mareantes mencionam a enseada ou porto de oficinas, já desparecido. Os canoeiros conhecem todos os segredos do teu leito, em tempo de cheia. Ninguém, porém, sabe a tua idade. Há hipóteses somente. O que seria este vale antes da tua passagem? Seria terra ou seria mar? Haveria florestas virgens ou seria um imenso deserto? De qualquer forma tens sido testemunha, de 1499 para cá, dos maiores episódios da nossa história regional. Abrigaste em tuas águas as caravelas de Pinzon e Hojeda (alguns historiadores fazem referência a este fato. Luís da Câmara Cascudo, porém, nega-o terminantemente). Aventureiros singraram o teu curso à procura de tesouros perdidos. Os terços de Pernambuco retalharam o teu solo em todas as direções dando caça ao índio bravio. (...) A tudo isto assististe, ó rio velho de minha infância. De outros dramas foste testemunha, de muitos outros tens sido tu a causa. E, ainda hoje, decorridos 400 anos do teu descobrimento, as coisas para ti não mudaram. Continuas sendo o rei, mudando caprichosamente o teu curso para onde queres, expulsando a população em tempo de cheia, matando os rebanhos, arrastando as cercas, destruindo, depredando enfim. Ó velho conhecido meu, como eu te admiro, como te quero bem, como sinto o meu destino ligado ao teu inconsciente e fatal destino de rei!”
Quem nasceu e se criou nas margens do Piranhas, grupo no qual me incluo, sabe que o autor do texto acima não foi nem um pouco exagerado nos adjetivos ao rio.
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