Sentei-me a seu lado, velho amigo. Olhei-o atentamente e confesso que não o reconheci. O tempo lhe foi implacável, mas isso já era de se esperar. Todos estamos sujeitos às modificações feitas por anos e anos de uma vida dura, difícil, quase um castigo. Só não esperava que você estivesse em estado tão deplorável.
Desculpe-me por lhe ser tão sincero. Achei que uma amizade antiga e íntima concedia-me o direito de lhe dizer palavras tão duras. Sofro muito ao vê-lo assim. Você não merecia tamanho desprezo. Difícil segurar, neste momento, o choro e as lágrimas que me escorrem abundantemente pela face.
Quanta saudade dos velhos tempos, em que nos divertíamos tanto. Fomos, desde a infância, inseparáveis companheiros. Jamais nos agredimos. O respeito mútuo foi nossa maior virtude. Sei que, em raras ocasiões, comportei-me mal com você. Mas eu era muito jovem, imaturo, e, por esse motivo, deve ter me perdoado.
Nossos encontros foram escasseando, à medida que eu crescia e descobria novos amigos. Porém, sempre que podia, procurava revê-lo a fim de matar as saudades de uma época inesquecível. Quanta saudade dos banhos nas águas límpidas, do futebol na areia fina, dos churrascos e feijoadas sob as oiticicas frondosas que o margeiam.
Perdoe-nos, amado rio, por termos sido tão cruéis com você. Devíamos ter aprendido com o sofrimento de Cristo e, assim, evitado maltratar tanto algo que só nos deu vida e alegria. Sei que ainda há tempo de lhe salvar. Impossível, todavia, apagar da História o quanto fomos pérfidos com você.
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