A BOLEIA
“Mamãe, o carro do homem do retrato chegou”, desembalado, grita Dedé. “O carro de Jesus Cristo, meu filho? Têm dois retratos aí na parede da sala”, diz, em tom de brincadeira, Mariquinha. “Não, mãe, deixe de mangar. No retrato, Jesus tá mostrando o coração. É o carro do homem que no retrato tá mostrando as presas”, responde um irrequieto Dedé. “Hum! O carro do candidato”, balbucia Mariquinha. Naquele feriado, dia das eleições municipais, Chagas, Mariquinha e seu filho Dedé não iriam a pé para a cidade. Não chegariam maquiados de poeira, suor e cansaço. Os preconceituosos não os veriam como se fossem gente escorraçada pelo luxo, abandonados pela vaidade, enviados da terra da penúria. Não, o candidato não permitiria. Não no dia das eleições. À boquinha da noite, depois de um dia de agrados, retornaram ao Sítio. Eles passarão por quatro anos de peleja e viagens angustiantes, até que o homem do retrato da parede volte.
1 comentários:
Com o auxílio luxuoso do Alcimar.
Patricinha
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