"CAUSOS JARDINENSES": ERRANDO NA SURRA

   Geovani, cunhado de minha esposa, legítimo representante da família Canzenza, cultiva uma grande amizade com Cara Veia. Não é raro os dois se envolverem em brincadeiras para lá de perigosas, geralmente envolvendo a participação de gatos, lançados um sobre o outro sempre que surja a oportunidade.

         Dia desses, os dois, bebendo em companhia de outros amigos, no barraco do Careca, já sob o efeito do álcool, iniciaram uma dessas “trocas de gentilezas”. Cara Veia, sentado que estava ao lado de Geovani, começou a puxar-lhe os pelos das pernas, sempre que guardava uma garrafa de cerveja consumida embaixo da mesa, onde já estavam há horas. Geovani, fazendo-se de vítima, aguardava a hora ideal para se vingar das estocadas de Cara Veia.

         Ocorre que Geovani, embriagado que estava, não percebeu um dos amigos sair da mesa, dirigir-se ao barraco e pagar a parte que lhe coubera na bebedeira. Como é de praxe acontecer, Lúcia, esposa de Careca, dirigiu-se até onde os bebuns estavam a fim de retirar da grade as garrafas correspondentes ao valor pago pelo amigo que fora embora mais cedo.

         Geovani, já com os reflexos diminuídos pela quantidade de cerveja sorvida, sentiu alguém abaixar-se a seu lado, por baixo da mesa. Pensando ser Cara Veia, achou que chegara a hora da vingança. E não pensou duas vezes: passou a desferir potentes tapas em Lúcia, achando ele que castigava Cara Veia. Somente depois de muitos safanões desferidos é que percebeu o engano cometido, após Lúcia já haver recebido um sem número de bofetões e, por causa deles, gritar efusivamente, clamando por socorro.

         Depois desse dia, Geovani passou uns longos meses sem passar perto do barraco do Careca. Muitos frequentadores do local, inclusive, passaram a perguntar a ele porque não estapeara o Careca em vez de Lúcia, já que aquele era um grande merecedor de levar os bofetes que esta, coitada, suportara inocentemente.