QUE PENA, MEU SERTÃO NÃO ERA ASSIM!
JAIR ELOI DE SOUZA*
Hoje, quatorze de outubro, em plena lua cheia a primavera completa seu primeiro mês, pois, aportara nas terras do meu Sertão, no dia 22, estava a noiva da noite em melancolia minguante e setembrina. Mas, ainda não pude ver o cênico das craibeiras e ipês na florada que se antecedera a esta estação. Saudoso do meu torrão querido, adentro no Blog do estimado conterrâneo Alcimar, escriba de tino consciente, que aborda introdutoriamente no seu veículo de comunicação, o fato de Timbaúba dos Batistas possuir menor taxa de pobreza, dentre os Municípios Potiguares, quando nossa Jardim nem figura nas cercanias desses parâmetros do IBGE.
Li, alcimar, reli. O que tocou no fundo do meu ego, foi o seu depoimento de quando professor à noite no Ginásio e na Amaro Cavalcanti, quando recebia os seus alunos que embora assíduos, os via dormirem nas carteiras, exaustos pelo dia de trabalho na tecelagem, que começara às quatro horas da manhã. A tristeza aumenta, quando no seu comentário informa que a droga cada vez mais se firma de forma voraz, destruindo a pré-adolescência e os mais taludos, como se vítimas e sub-produtos do capitalismo selvagem. A nossa geração perdeu a batalha. De sã consciência lhe afirmo: somos aves raras, por não dizer em extinção. O mundo que fez nossa infância, nossa adolescência, nossa cidadania então, já se fora. Que pena, meu Sertão não era assim!...
Éramos peraltas, presepeiros, peladeiros, coadjuvantes com nossos pais, nas tarefas caseiras, agro-pastoril, mas, a hora da Escola era sagrada. Fidelíssimos aos ensinamentos de nossos mestres. Fazíamos a primeira comunhão, a crisma, até beijamos o anel do nosso estimado Bispo diocesano. Tomávamos a bênção aos nossos pais, padrinhos de vela, aos mais velhos, como gesto de apreço e de respeito. Éramos rebentos sadios de uma estação luminar de bons valores, de referência cristã, de coesa solidariedade familiar, hoje esta, é motim de desavenças, palco de atitudes violentas, e desintegradoras de lares. Que pena, meu Sertão não era assim!...
Lembro do legado que deixara o ícone do apostolado nos sertões nordestinos, Padre José Maria Ipiapina, que mudara a saudação profana, Bom dia, Boa noite, Para: “Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo”, cumprimentos do estranho que chegava à noite, às vezes depois da primeira cantada do galo, para o que tinha como resposta dos que estavam em casa, “Para sempre seja o Senhor louvado”. Em certas ocasiões pessoas doutras plagas, até perdidas, areadas. As portas se abriam a recepção calorosa era uma constante. Hoje não se usa mais taramelas nas portas, estas são adereçadas com a mais sofisticada fechadura de cobre, e grades de ferro multifacetado, mesmo assim, os lares são invadidos, roubados, com um ingrediente a mais, os mais velhos são violentados, espancados até a morte, tudo quase por conta da presença da droga. Um cenário inimaginável nos sertões do Seridó em tempos não tão distantes. Que pena, meu Sertão não era assim!...
As moradias rurais sertanejas sendo deixadas para trás, o vazio pela ausência dos antigos donos, as paredes sujas, as portas e janelas destarameladas batendo assustam as próprias corujas, que fogem com receio. Também pudera, um mundaréu sinistro, de bandos armados a desafiar a letargia de governos, a tomarem os últimos teréns, dos que já perderam a dignidade humana, a resina cidadã e a esperança de encontrar uma porta que lhe dê guarida, pois, nestas eras, só a justiça divina ainda recebe os rogatórios dos que se mantêm munidos da fé. Que pena, meu Sertão não era assim!...
Com banzo, mas assistindo ao cênico da lua cheia em bolandeira./2011
(*) Professor do Curso de Direito da UFRN.
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