Tomei conhecimento, nos últimos dias, de que o município de Timbaúba dos Batistas, segundo dados do último censo feito pelo IBGE, era o município potiguar com a menor taxa de pobreza. Jardim de Piranhas, para espanto de alguns que aqui residem, não figura entre os primeiros lugares.
Esse dado desfaz um mito local: o de que Jardim é uma cidade rica. Nunca acreditei nessa falácia. O que se vê a nosso redor são milhares de tecelões e funcionários públicos, que mal ganham o suficiente para levar uma vida digna. Na verdade, o que há na “cidade das Hylux” é uma brutal concentração de renda. Isso pode ser facilmente percebido numa rápida visita aos bairros periféricos, onde a pobreza reinante é de fazer dó aos corações mais insensíveis.
Quando lecionei Língua Portuguesa no Ginásio e na Amaro Cavalcanti, principalmente no horário noturno, conheci dezenas de estudantes que se matavam de trabalhar, tendo de cumprir jornadas de trabalho estafantes, sem a menor perspectiva de um futuro bom. Chegavam cansados à escola e não eram poucos os que dormiam sobre as carteiras. Muitos deles, ainda hoje, encontram-se na mesma situação.
Nas indústrias jardinenses, o conceito da mais-valia, criado por Karl Marx, pode ser verificado na prática, sem muito esforço. As taxas de lucro superam, sobejamente, os salários pagos. Enquanto isso, assiste-se, com certo pesar e preocupação, a gerações se perdendo pelo caminho, entregando-se ao crack, ao álcool e à ostentação. Muitos trabalham a semana inteira sonhando com o sábado na Boate Clip ou o domingo em bares instalados nas margens do rio Piranhas. Os poucos que ainda valorizam o estudo não conseguem dar conta do recado, pois a labuta diária nas tecelagens e estamparias lhes exaurem as forças por completo.
Fique-se bem claro que nada tenho contra os empresários locais. Não são eles os culpados pelas situações acima descritas. Critico aqui as leis de um Capitalismo cruel, desumano, que privilegiam o desenvolvimento econômico em detrimento da integridade do homem e da natureza. Adam Smith, nesse particular, nunca seria merecedor do título de cidadão jardinense.
3 comentários:
Bom dia!
Parabéns pela clareza com a qual vc analisa os dados do IBGE sobre a taxa de pobreza dos municípios do RN e, principalmente, parabéns por interpretar e dar vida aos números do IBGE sobre Jardim. Infelizmente, a grande maioria conhece essa realidade. Falta-nos a coragem de continuar dizendo. A concentração da renda nas mãos de poucos é uma realidade. O poder econômico se mostra nas "praças" de Jardim e continua determinando o futuro político e social do município. Falta a revolta como no mundo árabe. Falta um sindicato para os trabalhadores da indústria téxtil, falta garantir direitos, falta a justiça do trabalho... e sobra as inverdades sobre o paraíso que é morar e trabalhar em Jardim.
Amigo, parabéns pela visao que tem da pura realidade de nossa terra.Pena que nao existe protesto , nem manifestaçoe do poder público e nem muito menos do ministerio público p resolver essa calamidade que se alastra em jp. Ao contrário o poder público so contribui p essa miséria.
Um anônimo enviou o seguinte comentário, por email: Olá, meu caro Alcimar. sou timbaubense de coração, resido aqui há 25 anos e nunca vi tanta mentira principalmente por parte de um órgão tão importante que deveria ser útil para informar notícias que beneficiasse toda uma comunidade que acompanha pra ficar bem informado. O correto seria vir alguém aqui pra ver in loco a situação de cada um e não divulgar algo que eles não tem certeza absoluta do que dizem. É certo que nós timbaubenses não entregamos o ponto facilmente, somos lutadoras, guerreiras, desde a louceira até lavadora de roupas e não deixamos os nossos privados de conforto e bem estar. Pra não falar que a maioria dos nossos maridos, companheiros debandam pra o Sul do país em busca de trabalho na construção civil. E até nossa mão de obra que por muito tempo garantiu nossa feira ao final do mês, acabou por falta de incentivo, apoio, que era o bordado que por muito tempo foi reconhecido nacional e internacionalmente, hoje já não existe mais, são rara as casas onde se vê alguma mulher daqui bordando, a não ser os trabalhos que gentilmente são deslocados daí das fabricas de sua querida cidade e somos muito gratas por isso. senão a coisa aqui tava feia. Ninguém acredite nisso, que não é verdade, a situação aqui também é cruel. Pode vir aqui que qualquer um vai falar a mesma coisa.
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