ADEUS, DOUTOR SÓCRATES!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011


Ontem à tarde, tal como a maioria dos brasileiros, grudei os olhos na TV a fim de assistir à última rodada do Campeonato Brasileiro de 2011. Acompanhei, atentamente, a mudança nos placares dos dez jogos em andamento. Da luta pelo título à fuga desesperada da segunda divisão, quase todas as equipes tinham um objetivo a perseguir. Para quem gosta de futebol, esse domingo reservou um prato cheio de emoções e rivalidades sadias, de norte a sul do Brasil.

Encerrados os jogos e definida a classificação final do campeonato, os que continuaram defronte da telinha testemunharam, nas mesas redondas e nas costumeiras coletivas dadas aos jornalistas, um festival de declarações ridículas, que nada condizem com profissionais, na verdadeira acepção do termo. Jogadores, técnicos e dirigentes aproveitaram do momento para destilar todo o ódio que nutrem entre si e que ficou guardado, à espera do desfecho final para ser finalmente revelado. Vejam algumas idiotices que escutei ou li:

1) O presidente do Atlético Mineiro, Alexandre Kalil, colérico após a goleada sofrida para o Cruzeiro, cancelou o bicho de um milhão de reais que havia prometido aos jogadores caso o Galo permanecesse na Série A;

2) O atacante Wallyson, do Cruzeiro, via Twitter, postou as seguintes mensagens: “Xau galinho ano que vem tem mais viu kkkkkkkkkkkkkk (sic)” e “Já são 6 horas da manha então o galo já caiu do puleiro!!! Kkkkkkkkkk (sic)”.

3) O presidente do Cruzeiro, por sua vez, disse: “Se o Atlético-MG entregou o jogo, foi em alto estilo, porque de seis ninguém entrega. Era um placar que ninguém imaginava”.

4) Também pelo Twitter, o atacante Kléber, hoje no Grêmio, referindo-se a seu desafeto Felipão, postou: "Entrega a faixa Ai Entao! (sic)".

5) Os jogadores do Corinthians comemoraram o título cantando: "Chupa, Valdivia! Chupa, Valdivia!".

6) Mauri Silva, ex-jogador do Corinthians e dirigente do clube na atualidade, após se envolver numa confusão com jogadores do Palmeiras, disparou: "Chupem. Ficaram bebendo o ano inteiro e agora quiseram correr".

7) O zagueiro corinthiano Leandro Castán, referindo-se a Thiago Heleno, zagueiro do Palmeiras, desabafou: "O Thiago Heleno sempre perdeu para mim, desde as categorias de base lá do Cruzeiro. Ele sempre teve inveja de mim. Mas, para me machucar, ele tem que bater mais forte. Talvez seja frustração pela passagem dele aqui no Corinthians".

Esse não é, indubitavelmente, o comportamento que se espera de profissionais que chegaram ao topo da carreira. Afinal, jogar nos maiores clubes do país é um sonho que poucos brasileiros conseguiram concretizar. Insultos e declarações como os acima transcritos são típicos de pessoas desequilibradas e mal educadas, que não merecem um mínimo de atenção por parte de quem aprecia o bom futebol.

Passando uma lupa nos elencos e diretorias dos maiores clubes do país, contam-se nos dedos das mãos os verdadeiros profissionais. Ainda assim, nenhum destes reúne condições de calçar as chuteiras do Doutor Sócrates. O Magrão, dentro ou fora de campo, foi um exemplo de atleta e cidadão. Nunca o vi xingar ou menosprezar um adversário. Engajou-se na luta pelas Diretas Já e criou a Democracia Corinthiana em plena Ditadura Militar. Comemorava os gols com um dos braços erguido e o punho fechado. Bem melhor que sair dançando ridiculamente, acompanhado por um bando de patetas.

Sócrates não merecia ter morrido num dia como ontem. Exceto as homenagens a ele feitas nos estádios, momentos antes de se iniciarem as partidas, tudo o que ocorreu nesse domingo, certamente, não contaria com sua aprovação. Pena que a idiotice reinante no mundo do futebol tenha relegado ao esquecimento o brilhante lema que ele ajudou a criar: “Ser campeão é detalhe”. Para muitos, atualmente, é questão de vida ou morte!

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