TEXTOS JURÍDICOS

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012


CONCURSO PÚBLICO: FRACASSO, VONTADE E RESISTÊNCIA
Atahualpa Fernandez (¹)
Marly Fernandez (²)

(...)

Tomemos, por exemplo, o caso de um indivíduo que experimenta a desagradável sensação de "não aprovar" em um concurso público e que logo permanece desanimado, sem forças, temeroso e algo desestimulado para enfrentar-se a novos concursos. Pode ser completamente consciente de sua suscetibilidade, permanecer desestimulado durante muito tempo e, sentindo-se insultado pela fortuna, deixar que seu estado de ânimo decaia cada vez mais, seus objetivos se dispersem e sua capacidade de desembaraçar-se da desesperança e dos sentimentos negativos simplesmente fique em suspenso ou desapareça.

O que ocorre com os momentos de frustração? Com esses momentos intermédios em que necessitamos continuar estudando, apesar de não termos conseguido a aprovação em um concurso anterior. Parece que nunca estamos preparados para que existam esses intermédios, essas angustiantes pausas. Dá a impressão de que se todo o nosso esforço não serviu para nada, então continuar a estudar talvez não mereça a pena. São momentos que se fazem tremendamente "eternos", vazios e algumas vezes difíceis de suportar, momentos nebulosos e rotinários nos que travamos uma luta implacável e desmedida para recuperar e manter viva nossa força de vontade, nosso ânimo e nossa determinação, principalmente no que se refere ao bom fluxo de nossos estudos.

Essas experiências, esses momentos intermédios, não são alheios a muitas pessoas. Tão pouco negamos a evidência da dificuldade que representa manter a firmeza quando se trata de suportar a pé firme os infortúnios que já não tem remédio, que a conduta humana é muito complexa e que com frequência há mais de uma razão para qualquer comportamento dado. Mas a dor emocional que não nos beneficia é sofrimento inútil. E não sendo a mente humana unicamente fáustica em sua eterna insatisfação, senão quase vitoriana em sua salaz fascinação pelo lado negativo da vida, a maioria de nossas frustrações são exageradas e, quanto mais as experimentamos, mais miserável tornamos nossa própria existência (M. Csikszentmihalyi). Afinal, segundo avançamos pela vida, nosso cérebro adquire novas expectativas e esperanças a partir de nossas experiências (sobretudo a partir das negativas), expectativas e esperanças que modelam nosso caráter, pois o melhor do que somos está precisamente no que esperamos chegar a ser.

Então, por que nos entregamos à falta de motivação, ao desânimo e ao stress com desesperança provocados pela frustração gerada por um eventual fracasso? Por que, ao invés de aprender a controlar e confiar no valor de nossas experiências subjetivas, de nossa vontade consciente, nos empenhamos a prestar demasiada atenção e dedicar tanto tempo aos nossos fracassos? Por que se a crença que temos de nós mesmos guia nossos atos, serve para dar significado a nossas experiências e determina o sentido e direção que damos a nossa vida (passado, presente e futuro), nos resistimos a mudar este tipo de mentalidade fatalista tão frequente nesses momentos intermédios de verdadeira tormenta emocional?

(¹) Advogado, procurador do Trabalho (aposentado), pós-doutor em Teoria Social, Ética e Economia pela Universidade Pompeu Fabra (Espanha), doutor em Filosofia Jurídica, Moral e Política pela Universidade de Barcelona (Espanha), mestre em Ciências Jurídico-Civilísticas pela Universidade de Coimbra (Portugal), bolsista (research scholar) do Center for Evolutionary Psychology da Universidade da Califórnia (EUA), bolsista (research scholar) da Faculdade de Direito da CAU- Christian-Albrechts-Universität zu Kiel (Alemanha), bolsista (research scholar) em Antropologia e Evolução Humana do Laboratório de Sistemática Humana da Universidade das Ilhas Baleares (Espanha), especialista em Direito Público pela UFPA, professor Titular da Unama/PA e Cesupa/PA, professor colaborador honorífico da Universidade das Ilhas Baleares (Espanha).
(²) Mestra em Direito pela Universidade de Barcelona (Espanha), doutoranda em Filosofia pela Universidade das Ilhas Baleares, bolsista (research scholar) em Antropologia e Evolução Humana do Laboratório de Sistemática Humana da Universidade das Ilhas Baleares (Espanha).

0 comentários:

Postar um comentário

You can replace this text by going to "Layout" and then "Page Elements" section. Edit " About "