CONTRIBUIÇÃO DO LEITOR

quarta-feira, 15 de agosto de 2012


AGNALDO, NA DISPUTA DE UMA "A MAIS BELA VOZ"

AGUINALDO: UM LORDE NA CORTE DO ENTRETENIMENTO!...

Jair Eloi de Souza (*)

As manhãs de setembro, o canto gregoriano nos missais de domingo, o cênico de florais do altar de Nossa Senhora dos Aflitos, o tom de rebeldia quando alguém tocava a cidadela de sua vaidade na organização dos eventos sociais são a marca desse ilustre caboclo puxado na cor, chamado Aguinaldo. Ser de memória e lembranças marcantes, alma de devoção e cumplicidade a tudo que se dedicava. A vida do bulir, do movimentar, do tomar parte, de concorrer, de disputar, era seu palco. Empreendedor, inteligente, vida dedicada inteiramente a nossa Jardim. Nutria indomável amor telúrico, fazia o seu gosto predileto e expansivo nas causas em defesa da terra. Promotor de eventos, cantor, agente de fazer a hora.

Aguinaldo não se intimidava com sua origem pobre. Desbravava o mar tenebroso do preconceito social e racial, irrequieto, amante do desafio, adereçava sua alma com o canto, com a encenação. Adorava o glamour dos desfiles, dos certames em palco, como: “A mais bela voz do Seridó”, versão cabocla dos concursos de calouros nos grandes canais da televisão brasileira, uma estação da descoberta de talentos nas terras dos ipês amarelos. O mundo do entretenimento, por alguns anos em Jardim, tinha a marca, o encaminhamento de Aguinaldo. Agendava show, fazia propaganda, oficiava como locutor de eventos sociais, enfim, era um oficioso a serviço da comunidade.

Na puberdade dos tempos, era um meninão travesso, alegre, vibrador, cantava a canção da vida. Não raro, chorava num rasgo de rebeldia, nunca de desespero, mas, já sonhando com a próxima chance, com o iminente e novo embate, para demonstrar sua força de vontade, na realização dos seus objetivos, que jamais foram de cunho pessoal. Sempre procurou engrandecer sua terra, nossa Jardim. Passara alguns anos trabalhando em São Paulo, tivera desempenho a contento, assumira chefia, ganhara um pouco de dinheiro com ilibada dignidade. Mas o banzo, a melancolia tomavam conta do seu ser, era a saudade ditando o seu estado d`alma, o momento da volta, a visão telúrica de um rio correndo sob a forma de lâmina cristalina, doce, sempre agradável para o banho matutino.

Caetana(¹) estava solitária, se apressara, levara Aguinaldo, preenchera o vazio de sua tenda. Mas, como aqui na terra dos mortais, esta senhora do além, deverá, tenho certeza, contar com os préstimos do nosso querido Aguinaldo, que com a dignidade que sempre se ofertou para servir nossa Jardim, também se fará presente nos ritos e eventos  da Corte Celestial.

Ainda é minguante/no mês das cobras/2012.

(*) Professor de Direito e Escriba da Cena Sertaneja.
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¹ Caetana – Assim Osvaldo Lamartine, o maior sertanista das nascentes do meu Seridó, tratava a morte.

3 comentários:

Anônimo disse...

aguinaldo, negro, pobre e gay, conseguiu desempenhar um papel significativo e positivo na cultura de jardim de piranhas, cidadezinha do interior abarrotada de preconceituosos. super aguinaldo!

Anônimo disse...

aurora no templo de nossa senhora dos aflitos


setembro de 1992, recreio no bar de Vera, freqüentado por desajustados que buscam equilíbrio no álcool. paradoxal, não? órfãos, de cultura universal, o mais cool, seria aquele com o dom de encabular muitos convivas para o divertimento no festim. incivilizado, não? o fuxico irônico e a aperreação de juízos fracos eram motes nas mesas regadas com todos as inconsequências do álcool. lá pelas três horas da tarde, depois de encabular meia dúzia, comecei a sentir um desconforto existencial, repentino, sem uma causa lógica - um conflito em meu ego tomava força. algo me incitava a dizer para mim que, exista um tipo de prazer, que fazia aquele nosso recreio no bar de vera, parecer uma sessão de tortura física e mental. receoso de que minhas feições entregassem minha batalha emocional, coisa de encabulado, naquele tipo de festim, enfiei minha cabeça na janela aberta para o largo da matriz de nossa senhora dos aflitos.ligaram uma tela de cinema real. jorros de luzes com tons azulados pareciam uma aurora boreal lançada por sobre a igreja. Aquele fenômeno me deixou etéreo. não ficava em mim nada que o homem estivesse produzindo. também não me sentia nem triste e nem alegre. só vidrado. fui para a igreja, mais perto do farol de encantamento.

com semblante cândido , olhos de brilho cósmico, Maria Calixto, mulher simples de, reconhecida ternura e inabalável respeito e compreensão aos seus semelhantes, orava de joelhos entre os bancos vazios da nave da igreja. ao passo que eu me aproximava dela, mais doce ficava a vida.

depois de um gole de felicidade, a porta principal da igreja. gente festejando, alguns se exibindo, outros trabalhando para divertimento alheio, muitos pedindo esmolas, alguns ladrões e uma santa orando na casa de outra santa.



Anônimo disse...

Gostei imensamente da crônica de Jair Eloi. Me levou às lágrimas. Não sabia da morte do grande Aguinaldo. Rezo pela sua santa alma! Fez muito por nós músicos / artistas do Seridó. Está juntamente com Santa Maria Calixto e Nossa Senhora dos Aflitos no CÉU !!!!!
Urbano Medeiros e família
(sudeste do Brasil)

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