A DITADURA DO "FORRÓ DE PLÁSTICO"

domingo, 28 de agosto de 2011



Estamos em 2001. Realiza-se, no Rio de Janeiro, mais uma edição do Rock in Rio. A multidão espera, ansiosamente, a apresentação do Guns N’Roses. Mas, antes, sobe ao palco Carlinhos Brow, para a revolta dos roqueiros presentes, que cobrem o músico baiano de garrafas e vaias.

O ano agora é 2011. O empresário Elídio Queiroz, pré-candidato a prefeito de Jardim de Piranhas, presenteia os jardinenses com uma festa no CAP. Iniciado o evento, alguns forrozeiros presentes, muitos já entorpecidos pelo álcool, consumido à vontade desde as primeiras horas do dia, vaiam a banda Trepidant’s, incomodados, provavelmente, com as belas baladas românticas, sucessos inesquecíveis da atração pernambucana.

As duas vaias, mesmo que separadas por dez anos, ressoam, uníssonas, num mesmo cenário de intransigência e desrespeito. Guardadas as devidas proporções, a Cidade do Rock e o CAP, em vez de assistirem a noites de música e alegria, presenciaram, estupefatos, demonstrações antidemocráticas e egoístas.

Este blogueiro não participou dos festejos natalícios do empresário Elídio Queiroz. O que escrevo agora é baseado em relatos ouvidos de quem presenciou os fatos. Entretanto, não é difícil descobrir o motivo da revolta com a banda Trepidant’s. A massa presente ao CAP fora para lá com a intenção de ouvir canções do quilate de “Lapada na rachada”; “Beber, cair, levantar”; “Parar meu carro na frente do cabaré”; “Zé priquito”; “Dinheiro na mão, calcinha no chão”; “Raparigueiro”; “Fogo no facho”; “Dança da piroca torta”; “Abre a mala e solte o som” etc. Nada mais natural, portanto, que não desejassem ouvir canções românticas e, ainda por cima, cantadas em inglês!

Ressalte-se que a ideia de se contratar os Trepidant’s partiu de quem financiava a festa, ou seja, o aniversariante. Este, muito possivelmente, aprecia “Remember me”, “All Love”, “My flaming Love”, dentre outros memoráveis sucessos da banda nos anos de 1970. A vaia, portanto, também o atinge. Esse fato demonstra, com clarividência, que vivemos, nesta segunda década do século XXI, a ditadura do forró de plástico. Aviões do Forró e Garota Safada viraram ícones, ditando, com suas letras de gosto duvidoso, um modo de vida que segrega quem vê o mundo com outros olhos. Vaiam-se não apenas os músicos de estilos diferentes, mas, também, todos aqueles que os apreciam. Eu mesmo, inclusive, já fui chamado de “idiota” apenas porque assistia a um DVD de Roupa Nova.

A vida em sociedade impõe alguns sacrifícios, dentre os quais conviver com gostos e ideias diferentes dos seus. Querer impor, a todo custo, suas preferências aos demais não é o comportamento esperado de pessoas civilizadas. Vaiar uma banda que não toca o que se deseja ouvir destoa desse comportamento. Poder-se-ia, perfeitamente, retirar-se do local. É o que costumo fazer quando alguém começa a vomitar palavras e expressões chulas, em alto volume. Não me é dado o direito de, sob o efeito do álcool, apupar as bandas de forró. Afinal, alio-me ao entendimento de João Gilberto, para quem “vaia de bêbado não vale”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Pois é, meu caro alcimar, não adianta espernear contra tal "ditadura", é o que a juventude gosta e ponto final. o que o senhor vai conseguir com isso é ser odiado por pessoas bitoladas ,que como vc msm disse, ñ respeitam gostos alheios. E outra, se é esse tipo de música que faz sucesso no nosso amado nordeste, é pq encontra respaldo e "afinidade" com as massas. Acredito que é o ouvinte que faz a música e não ao contrário, "a 'arte' imita a vida".

. disse...

Obrigado pelo comentário, caro anônimo. Só gostaria de ressaltar que nada tenho contra os admiradores desse tipo de forró. Convivo muito bem com todos eles. Da mesma forma que não os odeio por gostarem desse tipo de "música", acho que não corro o risco de me indispor com eles pelo fato de não compartilhar de suas preferências.

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