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terça-feira, 26 de julho de 2011


O CALO DA LÍNGUA

Pronomes relativos? Valha-nos, Deus! São o calo mais doloroso da língua. Poucos lhes entendem as manhas. Que, cujo, onde & cia. atrapalham jornalistas, advogados, estudantes, executivos. Ninguém escapa. É grave. O relativo tem função pra lá de importante no período. Conhecê-la assegura pontos no trabalho, promoção em concursos, aprovação em mestrados e doutorados. E, de quebra, abre as portas de bons empregos.

O relativo tem compromisso com a elegância. Detesta repetição de palavras. Para evitar a dose dupla, substitui o vocábulo que já apareceu. Se ele indicar lugar, é a vez do onde ou do em que. Se posse, do cujo. Na maioria das vezes, do que.

Onde

Minha terra tem palmeiras. Nas palmeiras canta o sabiá.

A palavra repetida? É palmeiras. No caso, "nas palmeiras" indica lugar. O onde pede passagem:

Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá.

Cujo

O livro está esgotado. O autor do livro recebeu o prêmio Jabuti.

Livro é o repeteco. Indica posse (seu autor). É a vez do cujo:

O livro cujo autor recebeu o prêmio Jabuti está esgotado.

Que

JK foi prefeito de Belo Horizonte. JK construiu Brasília.

O termo referido antes é JK. Funciona como sujeito. Venha, que:

JK, que construiu Brasília, foi prefeito de Belo Horizonte.

Brasília mantém-se moderna 51 anos depois de construída. Todos admiramos Brasília.

Brasília é a dose dupla. No segundo período, funciona como objeto direto. O que é do dono do lugarzinho.

Brasília, que todos admiramos, mantém-se moderna 51 anos depois de construída.

Direito adquirido

Acontece com as palavras o mesmo que com os homens. Algumas têm olho grande. Avançam nos bens das outras. Os relativos são vítimas de roubo pra lá de impiedoso. Muita gente os priva da preposição que os deve anteceder. O resultado é um só. Perde a língua. Perde o leitor.

Vale repetir: o pronome relativo detesta repetição de palavras. Para evitá-la, substitui o vocábulo dose dupla. E, claro, assume a função do termo substituído. Pode ser sujeito, objeto, adjunto, complemento. Se o original for acompanhado de preposição, ela se manterá. Que termos exigem preposição? Em geral, o objeto indireto e o adjunto adverbial:

A garota mora em Belô. Gosto da garota.

O termo repetido? É garota. Garota funciona como objeto indireto. (Quem gosta gosta de alguém.) O objeto indireto pede preposição. No caso, de. Na substituição, o pronome será objeto indireto e manterá o de:

A garota de que gosto mora em Belô.

Paulo Coelho faz sucesso na Europa. Os críticos duvidam da qualidade literária de Paulo Coelho.

Termo repetido: Paulo Coelho (indica posse). Funciona como objeto indireto. (Quem duvida duvida de alguma coisa.) No troca-troca, o de permanece.

Paulo Coelho, de cuja qualidade literária os críticos duvidam, faz sucesso na Europa.

Na palestra, os presentes puderam apreciar melhor os slides. Na palestra, o expositor se sentou sobre a mesa.

Termo repetido: na palestra (indica lugar). Funciona como adjunto adverbial (quem se senta se senta em algum lugar.) O em fica firme e forte antes do relativo:

Na palestra em que o expositor se sentou na mesa, os presentes puderam apreciar melhor os slides.

O livro foi escrito no século 19. Referi-me ao livro.

O termo repetido — livro— funciona como objeto indireto (quem se refere se refere a alguma coisa ou a alguém). A preposição original não arreda pé:

O livro a que me referi foi escrito no século 19.

Resumo da ópera: Quem foi rei nunca perde a majestade. Na reestrutura, a preposição mantém o cetro e a coroa.

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