CONTRIBUIÇÃO DO LEITOR

domingo, 31 de julho de 2011

O SILÊNCIO QUE DEUS QUIS!
JAIR ELOI DE SOUZA*


“Im memória a Professora Carminha de Conceição do velho gazo, um pequeno fluido do meu dedilhar literário, que penso ser, embora simples, ofertado do fundo de minha alma, por isso a simbologia”


No olhar, uma réstia de ternura. No caminhar lento e compassado, o permeio  macio de uma pétala que destalara do seu bouquet, porém, sem deixar de olhar para seus pares que ficaram ainda abotoados obedecendo a lei da natureza das coisas. Sexta-feira – dia 29 de Santana, 2011. Os tempos são de Lua minguante, o seu brilho deve adereçar pouco a amplitude dos templos, em razão de que também algumas noites serão penumbradas. Jardim de Piranhas é o anfiteatro, onde o Deus da sabedoria confabula com sua Corte Celeste, para deliberar sobre a recepção. Trata-se da despedida terrena e em silêncio da nossa querida e estimada Professora Carminha. A nobreza do seu caráter juntou-se a tercitura de seu ofício como professora, e o fazem em um pacto de sutileza, até no seu último adeus. Não é novidade, pertence a uma grei de gente da mais obstinada simplicidade, cuja ancestralidade imediata representada por seu pai, o Velho Zé Gazo e sua genitora Conceição, comungava do lenho de evidente solidariedade e assistência cristã, quando alguém acorria a sua casa pedindo algo para escapar da fome. E nesse viés, sei que os que vivem hoje na puberdade em primaveras, não sabem, da bondade desse clã familiar, quando em tempos idos possuía uma pequena padaria, e o fabrico dos pães não era só para vender, também, se destinava a doações. Nos anos trinta, meu pai – Luiz Eloi de Souza, ainda um enfante, escapara a si e aos seus irmãos, dando uma contribuição laboral ao Velho Zé Gazo, mas, sob o seu olhar e dos seus, levando para casa bisnagas de pães para os seus irmãos, já que nossos avós estavam na construção da barragem do Itans em Caicó, na condição de cassacos.

Carminha veio desse mundo de nobreza de solidariedade humana, e o viveu de forma única. Não teria outro senão a oferenda do desasnar, da transmissão do saber, do acender de luzes a aqueles que se compenetravam como infantes e adolescentes, em permear no Velho Machado de Assis na condição de alunos seus. Não tive espaço para prestigiar o seu sepultamento, em razão de convalescer de cirurgia e de ter travado conhecimento do fato lastimável ao meio dia desta sexta-feira, mas, imagino que além dos ex-alunos, dos seus amigos, familiares, até os deuses d`além acorrerão ao seu último instante, e em retribuição aos saberes humanistas que tantas vezes transmitira na medida generosa, apalparão de forma sedosa a aselha de seu agasalho no caminho para o céu. O silêncio que envolveu seu último suspiro foi mesmo patrocinado por Deus. Sua obra estava concluída, não houve sabatina na tenda divina. Mas, mesmo que houvesse, não haveria constrangimento quanto ao seu caráter, quanto ao seu desempenho no sacerdócio docente, pois, havia um pacto de dignidade humana da Professora para com todos que consigo convivera. Tenho Absoluta certeza, se meus pais estivessem vivos, teriam acorrido até nossa Jardim para prestar a justa homenagem a Carminha de forma muito solidária.

Com os encaminhamentos divinos, estendo o meu adeus, e de minha família, Goretti, Jamaica Gina e Heitorzinho im memória,  e um profundo agradecimento a Professora Carminha, por ter diminuído as trevas para muitos que receberam seus ensinamentos.

Natal, em lua minguante e Santana de 2011.

(*) Professor e diretor do Curso de Direito da UFRN.

1 comentários:

Francisco Borges disse...

Parabéns ao Dr. Jair pela bela homenagem a nossa colega, amiga e professora Dona Carminha.Tive a felicidade de convive profissionalmente com Carminha e posso atestar a grandeza de sua alma, muito além do aqui descrito pelo ilustre advogado e conterrâneo Dr. Jair Eloi de Souza.

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