DIREITOS HUMANOS PARA "HUMANOS DIREITOS"?

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Recebi hoje o email abaixo transcrito. Já o havia lido antes. Peço a você que o leia com atenção. Depois discutirei algumas questões por ele suscitadas.

PRESTE ATENÇÃO!

Carta enviada de uma mãe para outra mãe em SP, após noticiário na TV:

DE MÃE PARA MÃE:

Vi seu enérgico protesto diante das câmeras de televisão contra a transferência do seu filho, menor infrator, das dependências da FEBEM em São Paulo para outra dependência da FEBEM no interior do Estado.

Vi você se queixando da distância que agora a separa do seu filho, das dificuldades e das despesas que passou a ter para visitá-lo, bem como de outros inconvenientes decorrentes daquela transferência.

Vi também toda a cobertura que a mídia deu para o fato, assim como vi que não só você, mas igualmente outras mães na mesma situação que você, contam com o apoio de Comissões Pastorais, Órgãos e Entidades de Defesa de Direitos Humanos, ONGs, etc...

Eu também sou mãe e, assim, bem posso compreender seu protesto. Quero com ele fazer coro.

Enorme é a distância que me separa do meu filho.

Trabalhando e ganhando pouco, idênticas são as dificuldades e as despesas que tenho para visitá-lo. Com muito sacrifício, só posso fazê-lo aos domingos porque labuto, inclusive aos sábados, para auxiliar no sustento e educação do resto da família...

Felizmente conto com o meu inseparável companheiro, que desempenha para mim importante papel de amigo e conselheiro espiritual.

Se você ainda não sabe, sou a mãe daquele jovem que o seu filho matou estupidamente num assalto a uma vídeo-locadora, onde ele, meu filho, trabalhava durante o dia para pagar os estudos à noite.

No próximo domingo,quando você estiver abraçando, beijando e fazendo carícias no seu filho, eu estarei visitando o meu e depositando flores no seu humilde túmulo, num cemitério da periferia de São Paulo...

Ah! Ia me esquecendo: e também ganhando pouco e sustentando a casa, pode ficar tranqüila, viu, que eu estarei pagando de novo, o colchão que seu querido filho queimou lá na última rebelião da Febem.
Nem no cemitério, nem na minha casa, NUNCA apareceu nenhum representante destas "Entidades" que tanto lhe confortam, para me dar uma palavra de conforto, e talvez me indicar "Os meus direitos"!

Se concordar, circule este manifesto! Talvez a gente consiga acabar com esta inversão de valores que assola o Brasil.

DIREITOS HUMANOS SÃO PARA HUMANOS DIREITOS!

O autor do texto acima maneja muito bem as palavras a fim de conseguir seu intento: atacar gratuitamente os defensores dos direitos humanos.

Discordo frontalmente desse posicionamento. Em meu discurso de formatura,  teci alguns comentários a esse “movimento”. Eis o trecho:

NÃO SÃO POUCOS OS GRUPOS E CIDADÃOS BRASILEIROS QUE LUTAM EM DEFESA DOS DIREITOS DE TODAS AS PESSOAS E, COMO RECOMPENSA, RECEBEM CRÍTICAS FEROZES DE QUEM ACHA QUE “DIREITOS HUMANOS SÃO PARA HUMANOS DIREITOS”.  ESSE QUIASMO, IMPACTANTE, SONORO, EFUSIVO, EM VEZ DE DESFRALDAR A BANDEIRA EM DEFESA DAS VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA, NA VERDADE, DISFARÇADAMENTE, TRANSMITE A MENSAGEM DE QUE LATROCIDAS, ESTUPRADORES, SEQUESTRADORES SÃO MENOS HUMANOS QUE ESTUDANTES, PROFESSORES, JUÍZES DE DIREITO. NUNCA É DE MAIS RELEMBRAR QUE FAZER DISTINÇÃO ENTRE PESSOAS SIGNIFICA COLOCAR-SE NO PATAMAR UM DIA JÁ OCUPADO POR ADOLF HITLER E PELA KU KLUX KLAN.

SENHORAS E SENHORES,

CONFIGURA-SE UM PERIGOSO RETROCESSO DEFENDER A PENA DE MORTE OU ACEITAR A RELATIVIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS. URGE QUE NOS REVOLTEMOS DIANTE DE CENAS DE HOMENS PRESOS EM VERDADEIRAS JAULAS, ASSIM COMO DANTESCAMENTE MOSTROU O PROGRAMA FANTÁSTICO DA REDE GLOBO NO ÚLTIMO DOMINGO DE JANEIRO PASSADO. PLATÃO NOS ENSINOU: “QUEM COMETE UMA INJUSTIÇA É SEMPRE MAIS INFELIZ QUE O INJUSTIÇADO”. NÃO SEJAMOS, PORTANTO, SERES INFAUSTOS. NÃO NOS TORNEMOS PESSOAS AMARGAS, DESCRENTES DA RAÇA HUMANA, APENAS PORQUE UMA ÍNFIMA PARCELA DESTA ESCOLHEU VIVER NO MUNDO DO CRIME, DE ONDE A SABEDORIA POPULAR, COM PROPRIEDADE, DIZ HAVER APENAS DUAS SAÍDAS: O CÁRCERE OU A MORTE.

EM VEZ DE APLAUDIR A TORTURA, LUTEMOS, SEM FRAQUEJAR, PELO FIM DA IMPUNIDADE, POIS É DESTA QUE SE ALIMENTA A VIOLÊNCIA. E, NÃO MENOS IMPORTANTE, ESTIRPEMOS DEFINITIVAMENTE DE NOSSA CULTURA O ODIOSO “JEITINHO BRASILEIRO”. BASTA DE QUERER LEVAR VANTAGEM EM TUDO. AJAMOS COM ÉTICA. ZELEMOS PELAS NOSSAS INSTITUIÇÕES. DEFENDAMOS, COM VIGOR E SOBRIEDADE, O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO. NÃO SEJAMOS COMPLACENTES COM A CORRUPÇÃO E COM A IMPROBIDADE DE QUEM NOS GOVERNA. NÃO ASSISTAMOS, IMPASSÍVEIS, AO SOFRIMENTO DOS MAIS HUMILDES. É INACEITÁVEL QUE, ELABORADA NO INÍCIO DO SÉCULO PASSADO, AINDA SE MOSTRE ATUALÍSSIMA A ANÁLISE FEITA POR RUI BARBOSA: “DE TANTO VER TRIUNFAR AS NULIDADES; DE TANTO VER PROSPERAR A DESONRA, DE TANTO VER CRESCER A INJUSTIÇA. DE TANTO VER AGIGANTAREM-SE OS PODERES NAS MÃOS DOS MAUS, O HOMEM CHEGA A DESANIMAR-SE DA VIRTUDE, A RIR-SE DA HONRA E A TER VERGONHA DE SER HONESTO”.

Reflita bastante, caro leitor, antes de defender tratamentos desiguais entre seres humanos. Isso já foi feito antes. O resultado foi a morte de 6 milhões de judeus.

1 comentários:

Anônimo disse...

Realmente Alcimar, parabéns pelo seu discurso. Agora, como abriste o espaço para reflexão, vou expor então a minha. A carta, ao meu ver, foi escrita em um momento de dor, desespero, angústia e tantos outros desconfortos, outrora provocados por uma perda, perda de vida, seu filho. A senhora que a escreveu, retratou os males da impunidade e do desamparo pelo qual é tratado o cidadão de bem nesse tão extenso país, onde uns tem tantos e outro, tão pouco, mas com dignidade. Lembraste Platão quando retrataste a justiça que "quem comente a injustiça é sempre mais infeliz", da laboriosa angústia de "A República", mas em seu livro primeiro, ele retrata um plano diferente para a "justiça". Lembraste o ódio racial em detrimento a dois povos, a "raça ariana" e a "raça negra", embora tantas outras insurgências formaram o palco da humanidade, todas com real desprezo à vida, senão vejamos, a inquisição, a revolução bolchevique, o stalinismo, a marcha de Mao, o colonialismo, milhões de vidas foram ceifadas ao bel prazer da insensatez, entretanto, para os que a fizeram, tudo foi feito em nome da honra e da justiça. A justiça, como objeto divino às vezes deixa a desejar e, porque não, quando há a necessidade de uma maldade para justificar um bem, isso também é justiça, com a máxima "nãohá males que tragam um bem". O mundo vivenciou todo o tipo de tragédia e escárnio à vida, a humanidade se embrenhou ao consumismo e, com isso, o valor humano tomou pouco sentido. Houve justiça quando os Estados Unidos matou Osama Bin Laden? para eles sim. Isto não é um relato sofista, apenas refleti os dois textos como pediste, a carta e seu discurso, um desabafo de uma mãe que perde o filho e um relato de cidadania e amor ao próximo, qual destes pensamentos reflete mais a nossa vida? Você deixa uma reflexão, deixo uma Pergunta. Desculpe-me os deslizes gramaticais. Um abraço

Postar um comentário

You can replace this text by going to "Layout" and then "Page Elements" section. Edit " About "