CARTA AO AMIGO E CONTERRÂNEO ALCIMAR

segunda-feira, 13 de junho de 2011

ASSUNTO: Comentário ao email retro: Estado Democrático, impunidade e famílias dilaceradas pela violência.

Tempos idos, nas terras ínvias do Sertão, assistimos ao surgimento de tipos delinquentes como: o tocaieiro, o valentão, o cabra, o capataz, o jagunço, o fanático (nas horas de açodamento), o cangaceiro e, finalmente, o pistoleiro, surgido na década dos anos trinta (o mais ignóbil, execrável, segundo o Mestre Ariano Suassuna). Eram tempos ásperos, o Estado-Lei existindo apenas no permeio da silhueta canavieira, onde predominava uma sociedade de natureza escravocrata, servil, sem a presença da dignidade humana, pois as relações laborais alimentavam verdadeiros guetos de miséria, a  truculência do poder de polícia, nada diferia da maneira de agir dos piores tipos delinquentes mencionados. Nesse vácuo do Estado-Lei, democrático, as gentes dos sertões construíram uma sociedade de características ao seu bem prazer. Nesse contexto, criaram uma espécie de justiça privada, imediata, reparadora, compensadora, aos constrangimentos que atingiam as muitas famílias de nordestinos habitantes do cinzento. A ausência da escola, o desprezo à saúde, a falta da autoridade arbitral, isenta, que patrocinasse uma composição entre as partes litigantes, a desassistência às comunidades miseráveis, principalmente nos períodos de secas, com consequências letais, geraram o aparecimento de grupos de salteadores sanguinários, de uma violência recrudescida e impiedosa.

Inimaginável seria pensar, nos dias de hoje, que essa realidade, embora com características diferentes, esteja presente com um cênico desabonador: Uma mãe pobre, lamentando o deslocamento do seu filho que cometera um ilícito. A outra lacrimejando sobre o túmulo da vítima, também filho, que fora trucidado na puberdade dos tempos por aquele. Dois mundos de crueza para o ser humano. O Estado assistindo com indiferença como Pretor-mor, com os cofres abarrotados de pecúnias, para fazer o banquete dos comensais, não só degustando o faisão em molho madeira, nem o caviar vindo de terras d`álém mar, em lusco-fusco de sutil cochiço de tratativas, um pacto de estabelecer os nacos que cada personagem vai albergar no bosso.

Tenho acompanhado à distância a greve dos docentes de nossa Jardim, já delongando-se por várias semanas, que, a exemplo da estadual,  se arvora na vindicância de melhoria salarial e outras de ordem material e pedagógica. A atenção do alcaide municipal é nos limites de uma carruagem puxada por tartaruga. As necessidades de encorpamento salarial dos trabalhadores da educação estão a reboque da carruagem da carestia, do custo de vida, que, ao contrário da primeira, é puxada por antílopes das estepes ou gazelas das savanas africanas, principalmente quando estão a cumprir longas distâncias a procura dos primeiros brotos, sob pena de padecerem naquela estação.

O jus esperniandum dos docentes é uma construção de dignidade humana, é um ritual de permeio nas cercanias da estação que estabeleça um preço justo por seus serviços magnânimos, sob a forma do iluminismo do saber, do conhecimento, que leve o ser pensante, inteligente, a níveis de vida, diferenciados da miséria, da frustração de não ter adquirido a aptidão para trilhar os caminhos da vida. Essa situação por que passa a educação de nossa terra tem minha atenção eminentemente não só nos limites de minha lavra docente, da simbologia de ter passado com muito orgulho pelas carteiras do Padre João Maria, mas também, e sobretudo, de irrestrita solidariedade aos que fazem o processo ensino-aprendizagem, nos seus diferentes níveis. 

  
Com um forte abraço a você, Alcimar.
Mas, também, aos que alimentam a tenda do saber.

Prof. Jair Eloi.

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